Evolução disruptiva

por Onevair Ferrari em 30.09.2016

Comecei a trabalhar com planejamento de projetos no início da década de 1980, quando ainda não havia computadores pessoais e muito menos notebooks, tablets e smartphones. Naquela época, tinha-se que primeiro saber fazer e depois arranjar a ferramenta que pudesse ajudar na arte final. Muitos dos cronogramas e redes de precedências na época eram feitos à mão, na prancheta, com aranha e pena de nanquim, sobre papel vegetal.

IBM / 360. Tive a sorte, porém, de trabalhar numa grande empresa multinacional de engenharia, que contava com os melhores computadores da época, os mainframes, no seu CPD – Centro de Processamento de Dados, um lugar de ar gelado, com unidades de fita, unidades de disco, consoles de comando e leitoras de cartões perfurados. Aquele ambiente futurista era ponto de interesse de todas as visitas na empresa e onde trabalhavam os magos da “informática”, a atual TI.

Fui iniciado no gerenciamento de projetos e no uso de softwares de Project Management, portanto, quando se programava em Fortran, perfurava-se cartões com as instruções, rodava-se os jobs à noite e apanhava-se os resultados no escaninho do CPD, impressos em formulários de folhas contínuas, geralmente zebradas. Usávamos os principais softwares de gerenciamento do mundo, como o PCS – Project Control System, o Artemis, o Projacs – Project Analysis and Control System e o IFPS – Interactive Financial Planning System, que tinham licenças muito caras e praticamente nenhum suporte no Brasil.

Plotter de Rolo. Como os projetos eram grandes e complexos – usinas hidrelétricas, subestações, linhas de transmissão, siderúrgicas, plantas químicas, plataformas de petróleo, etc. – também grandes e complexos eram os planejamentos. Precisávamos mais do que os softwares internacionais podiam oferecer, não tanto em algoritmos de cálculo, mas especialmente em saídas gráficas. Foi necessário criar vários programas auxiliares para conseguir relatórios melhorados e, especialmente, desenhos de redes, cronogramas, histogramas e curvas S, que os pacotes não ofereciam.

Para dar conta destas saídas gráficas, tínhamos um plotter de rolo, que permitia tamanhos superiores ao A0 e penas de diversas cores e espessuras, sempre correndo o risco de algum entupimento durante a plotagem. A empresa – e todos nós – se vangloriava deste equipamento, como sendo o único daquele tipo no país. Mas as cópias continuavam sendo heliográficas, monocromáticas, com aquele cheiro característico de amoníaco.

PMO. Foi nessa época, nos meus primeiros anos de planejamento de projetos, que percebi que a grande maioria dos cronogramas utilizados nos projetos estava desatualizada e não refletia mais a situação dos projetos. Isso acontecia devido ao enorme trabalho necessário para atualizar manualmente as redes e cronogramas, frequentemente com mais de 1000 atividades.

Como nosso aparato tecnológico nos permitia fazer atualizações rapidamente, nosso trabalho de PMO (embora na época não se usasse esta denominação) logo se tornou indispensável. Relatórios mensais, alternativas para recuperar atrasos do projeto, aumentos de escopo, reivindicações, tudo passou a ser feito com base nas atualizações e simulações do nosso plano do projeto. Nossa empresa não tinha mais cronogramas decorativos como a maioria da concorrência e os clientes não demoraram a dar valor a esse diferencial. Durante alguns anos, nossos projetos gozavam do status de ter seu planejamento “feito por computador”. Isso foi efetivamente uma evolução disruptiva no gerenciamento dos projetos.

Bons tempos aqueles, que me levaram à paixão por Gerenciamento de Projetos, ofício que me fez aprender sobre as mais diversas áreas de aplicação, me permitiu participar de projetos incríveis, me fez conhecer grandes profissionais, me proporcionou experiências de trabalho memoráveis e do qual me ocupo até hoje.

Onevair Ferrari, DSc, MSc, PMP é professor, consultor, palestrante, coach em Gerenciamento de Projetos e diretor da Nexor.
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