Entreviste seu futuro chefe

por Onevair Ferrari em 30.09.2017

É muito comum meus alunos me pedirem informações sobre empresas que estão prospectando para trabalhar. Quando tenho referências, querem saber “como é” a empresa, ainda que isso possa cobrir um leque enorme de aspectos.

Além das informações mais óbvias, encontradas facilmente na web – mas nem sempre pesquisadas pelos interessados – história da empresa, país de origem, principais produtos, principais clientes, principais concorrentes, principais fornecedores, localizações, número de colaboradores, faturamento, lucro, propósito, visão e missão – descobri que o que mais interessa mesmo, é o “clima no trabalho” naquela empresa.

Procuro contribuir, sempre que posso, especialmente quando já realizei algum trabalho para a empresa e pude aferir in loco se os colaboradores gostam de trabalhar lá. Esta é uma percepção difícil de racionalizar e que depois de mais de 25 anos atuando em consultoria e treinamento, desenvolvi naturalmente. Quando entro numa empresa pela primeira vez, percebo este “clima” em pouco tempo, com poucas interações com seus colaboradores.

Clima no trabalho. Este conceito pode incluir muitas variáveis que vão desde a estrutura organizacional, as relações hierárquicas e as relações interpessoais, até o horário de trabalho, a formalidade da vestimenta e a possibilidade de trabalhar de casa. Mas, o resultado final de tudo isso é o sentimento de realização e pertencimento refletido em cada colaborador.

Prioridade aos 20, 30 e 40+. Costumo sugerir que até os 30 anos o mais importante é a capacidade de aprender. Dos 31 aos 40, o mais importante é a capacidade de realizar. E dos 41 em diante, o mais importante é a capacidade de decidir assertivamente, ponderando múltiplas variáveis com base na experiência e nas referências construídas ao longo da vida profissional. Ainda que todas estas capacidades sejam importantes em todas as fases da vida, atropelar estas prioridades geralmente provoca frustrações, desastres pessoais e sinistros profissionais.

Remuneração. A remuneração não deve ser a principal motivação. O mais importante é apreciar o trabalho, o ambiente, os colegas, perceber que está evoluindo e sentir que está contribuindo para com “algo maior”, o tal propósito. Claro que existem empresas mais e menos sensíveis às crises, com maior ou menor pressão por resultados, com ou sem perspectivas internacionais e com melhores ou piores políticas de progressão de carreira.

Avaliar o chefe. O melhor conselho que dou é o de identificar e avaliar cuidadosamente o futuro chefe. Nem sempre esta é uma tarefa fácil, principalmente entre tantos testes, speeches, entrevistas, dinâmicas de grupo e outras performances de seleção envolvidas na contratação. Mas, pelo menos no estágio final, procurar saber o nome, o perfil profissional, as características pessoais, a função e o departamento do futuro chefe, pedir para falar com ele e avaliar sua capacidade e disposição para gerar oportunidades para a formação e o desenvolvimento profissional do colaborador, é uma iniciativa valiosa.

Como contratante de um novo colaborador garanto que o futuro chefe achará, no mínimo, curioso. Principalmente se o candidato tiver consistência nas perguntas, evidenciar que já se informou sobre a empresa, demonstrar interesse em aprender e ao mesmo tempo em contribuir para o negócio.

Em se tratando de projetos, a importância da sintonia com o futuro chefe é ainda maior. Além das ricas oportunidades de aprendizado oferecidas pelos projetos, sua transitoriedade, faz com que o futuro chefe, seja ele o Cliente do Projeto, o Patrocinador do Projeto ou o Gerente do Projeto, construa equipes fortes e frequentemente leve seus melhores colaboradores a participar de outros projetos, às vezes em outras funções, em outras empresas, em outros países.

O que você acha? Pronto para a entrevista? Não se esqueça, porém, de manter a devida humildade ao entrevistar o futuro chefe e, por favor, não transforme essa idéia em mais um truque pasteurizado de entrevistas.

Onevair Ferrari, DSc, MSc, PMP é professor, consultor, palestrante, coach em Gerenciamento de Projetos e diretor da Nexor.
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