Eleições no país lavado a jato

por Onevair Ferrari em 28.09.2018

Às vésperas da eleição mais importante dos últimos anos, o país se divide entre o radicalismo e a melancolia. O radicalismo parece movido por um sentimento de vingança, contra todos os políticos, contra o país e contra o próprio futuro. A melancolia, por outro lado, vem da desesperança, da repetição de desacertos e da falta de perspectiva de melhora.

A ideologia foi, há muito, substituída pela ambição. O poder embriagou a todos que, em algum momento do passado, compartilharam sonhos, projetos e esperanças com os eleitores.

Os marketeiros das atuais campanhas, uma vez mais, usam de todas as artimanhas para esconder o filme do passado recente e jogar luz em apenas alguns episódios apresentáveis. E parecem, mais uma vez também, estar conseguindo deletar da memória coletiva os sucessivos “malfeitos” e os protagonistas que meteram o país nesta enrascada econômica, social e moral.

Enquanto o desemprego desespera grande contingente de trabalhadores, o funcionalismo público, que deveria servir aos cidadãos, delibera sobre seus próprios proventos, hoje muito superiores aos de seus pares da iniciativa privada, minando também a Previdência.

Os governos, em todas as esferas, consomem praticamente todo o orçamento no custeio da máquina pública, com o pagamento de salários do funcionalismo, sobrando muito pouco para os investimentos necessários em projetos, obras e ações que efetivamente melhorem a vida da população, garantam saúde, forneçam educação, gerem empregos e coloquem o país na rota da ordem e do progresso.

O Brasil tem atualmente milhares de obras paradas, entre rodovias, creches, hospitais, estações de tratamento de água, escolas, ferrovias, evidenciando que saúde, educação, transporte, moradia e segurança, temas tão recorrentes nas promessas de campanhas, carecem de capacidade de gestão depois na execução.

Todos querem seu naco de privilégios, de indulto fiscal a apadrinhamento político em cargos públicos que tornam medíocres as instituições, no mais amplo espectro da vida nacional.

Considerando estes e outros componentes da tragédia atual, aumenta a responsabilidade do voto de cada brasileiro. Analisar, ponderar e escolher quem realmente é capaz de realizar ao menos parte das muitas promessas de campanha e tirar o Brasil do buraco em que os últimos (des)governos meteram o país, é a atitude que mais importa. Qualquer ideologia torna-se impotente neste momento e se dobra à necessidade de se impedir mais desastres, sob cores velhas ou novas.

O candidato ideal não existe. Não se apresentou. Pelas mais diversas razões. Os disponíveis não conseguem representar grande parte dos eleitores. Mas não é o momento para a ingenuidade do voto em branco ou nulo. Impedir que o pior aconteça, passa a ser a última fresta de esperança. E, dependendo do resultado das urnas, o êxodo dos desesperançados certamente vai reeditar o BRASIL: AME-O OU DEIXE-O dos anos 70, fazendo com que muitos, a exemplo daquela época sombria, passem a amá-lo de longe.

Onevair Ferrari, DSc, MSc, PMP é professor, consultor, palestrante, coach em Gerenciamento de Projetos e diretor da Nexor.
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