A aposentadoria de James Bond

por Onevair Ferrari em 31.10.2017

Seu nome é Bond. James Bond. Agente aposentado do serviço de espionagem britânico MI-6, que passa seus dias dando aulas de Inglês para uma ONG em Nápoles, Itália. Seu “público alvo”, agora, é constituído de jovens refugiados, que almejam vida melhor no continente europeu. De certa forma, continua a serviço de Vossa Majestade, na medida em que incentiva os refugiados a irem para a América!

Suas manhãs são mornas, à beira da piscina, em sua villa al mare, com vista para o Mediterrâneo. Ali decifra os interesses de grandes corporações e do crime organizado por trás das manchetes dos principais jornais do mundo. À tarde ministra as aulas e, no início da noite, passa infalivelmente pelo Gran Caffé Gambrinus para uma refeição leve, sempre finalizada com um corto con panna e um sfogliatelli. É generoso nas gorjetas, para que lhe reservem sempre a mesma mesa, protegida de eventuais assédios nostálgicos e da curiosidade de velhos membros da Camorra. Na volta para sua mansão, ainda acelera um dos Aston Martins desenvolvidos por "Q", mas com os artefatos já desativados. Dorme cedo, geralmente desacompanhado e com saudades das bondgirls. Das beldades do passado, Moneypenny é a única que ainda o visita esporadicamente.

Nunca se recuperou dos sintomas causados pelos micro-orifícios do caso Spectre, mas seu coração bate mais forte quando sonha que seu celular identifica uma chamada de “M”, ainda que sua licença para matar tenha sido cancelada há anos. O máximo de adrenalina, atualmente, acontece nos finais de semana em Capri, quando joga bridge com Goldfinger, seu ex arqui inimigo, também aposentado dos mal feitos do passado. E por mais que seu médico o tenha proibido, estas rodadas são regadas a dry martinis, como que para resgatar o gosto de viver perigosamente.

Com a atual crise no Brasil e os projetos em modo avião, assim como James Bond, muitos gerentes de projeto estão se aposentando prematuramente. Alguns vão se dedicar a projetos pessoais de coisas que sempre quiseram fazer, mas que até então não tinham entrado em seu portfólio e nunca estiveram no caminho crítico. Outros estão partindo para atuar no exterior, uma vez que a expertise de conduzir projetos sempre encontra oportunidades de colocação em cenários econômicos saudáveis.

Com isso, o Brasil perde uma força de trabalho qualificada e experiente, formada nos projetos dos anos em que o país gozou de boa saúde econômica e de muita sorte com o mercado internacional - justamente uma especialidade que poderia contribuir muito para as transformações tão necessárias nas mais diversas frentes, da infra-estrutura à educação.

Além da perda dessas competências, grave também é a perda de referências para a formação de novos gerentes de projeto, com as equipes de projeto se tornando cada vez mais neófilas, dotadas de pouca ou nenhuma diversidade geracional.

A exemplo das crises anteriores, quando também houve um apagão de projetos, é provável que se leve um bom tempo para formar novas gerações de gerentes de projetos, especialmente no que se refere à bagagem necessária para enfrentar os enormes desafios que o país tem pela frente.

Seriam prenúncios de outra década perdida?

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Onevair Ferrari, DSc, MSc, PMP é professor, consultor, palestrante, coach em Gerenciamento de Projetos e diretor da Nexor.
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